A partir de hoje, começo um novo projeto aqui no Substack.
Algo ambicioso e completamente pretensioso:
A Fantástica História de Epifania.
Um livro infanto-juvenil escrito em tempo real (sort of) e publicado exclusivamente aqui, gratuitamente. Uma vez ao mês enviarei um pedaço da história que se completará ao longo de 12 meses. Acho.
A ideia é voltar com os folhetins de antigamente, quando Machado de Assis e companhia limitada não tinham seus dinheiros para publicar livros ao Deus-dará. Quem sabe não vira uma #trend legal do Substack e todo mundo começa a publicar seus folhetins por aí?
Pode não ser a sua praia? Claro! Mas dê uma chance e quem sabe você se envolve na história da pequena Epifania?
Caso contrário é só deletar o e-mail gente, ninguém morre disso não.
Prólogo
Esta história pode parecer apenas um amontoado de palavras, mas acredite, tudo que aconteceu aqui é fruto de uma senhora epifania.
O que passa na sua cabeça ao ler a palavra epifania? Uma ideia elegante, nobre, rebuscada? Uma revelação que, subitamente, faz você entender tudo? Sim, hoje em dia é este o significado: uma palavra sagrada, dessas que fazem suspirar, como se Deus soprasse um segredo no seu ouvido e, de repente, tudo fizesse sentido. Não é só uma revelação, é uma revelação com força de uma lâmpada incandescente.
A epifania não avisa quando chega; ela arrebata. Surge na leitura de uma frase que ressoa com uma parte esquecida de nós, num sorriso dado por alguém amado, ou mesmo na solidão do fim de tarde. Ela transforma a dúvida em certeza. E, nesse instante de descoberta, a vida se renova, abre-se para novas possibilidades, para um novo entendimento de si e do mundo.
É uma palavra bonita.
Só que nem sempre foi assim.
Epifania, antes de se transformar em conceito, era simplesmente um nome próprio. Por acaso era o nome de uma jovem que caminhava com a cabeça nas nuvens – literalmente. Sua morada era no céu, ao lado de anjos e trabalhadores celestiais que, silenciosamente, fazem a Terra girar e a vida acontecer. Sabe, a vida acima das nuvens é agitada. Um batalhão de trabalhadores é necessário para que tudo aconteça aqui embaixo. São infinitos departamentos minuciosamente criados onde cada detalhe da nossa vida funcione como um relógio.
Todos os seres que lá habitam foram criados com uma função específica: criadores de coincidências, fazedores de preguiça, compositores de silêncios. Ao completar sete mil anos terrestres (dois segundos celestiais), os seres eram automaticamente direcionados para o departamento a que foram designados na criação. Sua aparência, desde o nascimento já indicava para onde iriam. E não se engane, um serzinho de uma família de inventores de cheiros, poderia muito bem já ter nascido preparado para ser um arquiteto de ideias.
Exatamente o caso de Epifania. Seu pai, sua mãe e seus catorze irmãos eram todos exímios cheiradores. Inventaram os melhores cheiros conhecidos na Terra: café, chocolate, aconchego do abraço da mamãe. Se orgulhavam da tradição familiar. Cada um havia sido condecorado com honrarias divinas. A matriarca inclusive foi agraciada por Deus que nomeou um item terrestre cheiroso com seu nome: Baunilha.
Quando Epifania nasceu, com asas atrás das orelhas e o cabelo vermelho incandescente que parecia ter roubado fogo das estrelas, todos tomaram um susto. Como poderia a caçula da família nascer como arquiteta de ideias? Pois é, acontece nas melhores famílias. Entretanto, pouco Epifania se importava com isso; estava mais interessada nos detalhes que passavam batido.
Era uma menina peculiar. Cresceu batendo suas asas e aprendendo a voar sozinha. Seus irmãos a consideravam algo estranho, tinham curiosidade para ver como cada asa funcionava. Queriam de qualquer forma que ela conseguisse inventar um cheiro para si. Ela aprendeu a identificar cada cheirinho para agradá-los, mas sabia que precisava mesmo era voar para observar, deduzir, pensar, arquitetar.
Com o tempo ela se tornou cada vez mais distinta: usava fones de ouvido para bloquear qualquer ruído e transmitir uma música que só ela podia ouvir. Infelizmente a playlist de Epifania se perdeu com o tempo, portanto, só podemos imaginar seu estilo musical favorito. Seu cabelo, sempre preso em um coque para não atrapalhar sua curiosidade ou roubar sua visão. Porém, o que mais chamava atenção na garota eram as asas. Não nasceram nas costas como era de se esperar, mas da sua cabeça, pequenas, luminosas e sempre em movimento. Quando ela se concentrava muito em alguma curiosidade, as asas batiam rápido como de um beija-flor e brilhavam igual uma lanterna.
De resto, ela era como uma jovem comum: distraída, parecia estar sempre um pouco perdida. Só que não se tratava de rebeldia pura e simples. Não era aquele desinteresse blasé que ronda a aura da juventude. No caso de Epifania o mundo ao seu redor sempre tinha algo novo a oferecer. Cada passo, um pensamento; cada pensamento, uma nova revelação. Por isso, ela vagueava, sem destino, observando o movimento, até o momento em que se tornaria parte dele.
Sua vida virou de cabeça para baixo no dia que completou seus 7 mil anos e foi trabalhar no Departamento de Ideias como assistente de produção das ideias mirabolantes. Uma repartição excessivamente luminosa, onde ideias brilham como estrelas até ofuscar os olhos. Era onde ela sentia que deveria estar. Deste dia em diante começa a história de como Epifania mudou o mundo.
Ela só não sabia disso ainda.
ameiii😍
Amei!! Quanta criatividade!!